quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Eleições na Noruega: virada conservadora ou ultraconservadora?

Anteontem (9/9/2013) houve eleições parlamentares na Noruega, e uma virada política já anunciada há alguns anos finalmente aconteceu: a mudança de governo da atual coalizão social-democrata para uma provável coalizão direita-ultradireita. Os partidos conservadores alcançaram ampla maioria no Parlamento.


A direita (azul) ganhou 96 cadeiras no parlamento, enquanto a coalizão social democrata (vermelho) ficou com 72; é preciso 86 cadeiras para obter maioria. Fonte: NRK

O espectro político azul consiste em dois partidos de direita, o Høyre (em azul claro acima), de onde vem a futura primeira-ministra Erna Solberg, o Fremskrittpartiet, de ultradireita (azul escuro), e dois partidos menores de centro, o cristão KrF (amarelo) e o "esquerda" Venstre (turquesa).

Os debates eleitorais mostraram que, por um lado, os social-democratas têm receio que um governo de cunho mais neoliberal abra espaço para maior privatização de setores hoje públicos, causando desigualdade social e desestruturando o estado de bem-estar social. Os conservadores argumentam que há má gestão no setor público e que é preciso abrir espaço para o setor privado.

Um exemplo claro da divergência entre as duas alas diz respeito ao imposto sobre grandes fortunas (formueskatt); a esquerda entende que é importante manter e se possível aumentar, para manter a igualdade social; a direita, encabeçada pelo Høyre, sustenta que o imposto afeta a capacidade de concorrência das empresas e quer elimina-lo. Essa medida viria p.ex. a beneficiar o miliardário Olav Thon (90) em cerca de RS 23 milhões.


Quem formará o próximo governo?

Como o novo governo norueguês será formado? Será uma aliança entre os 4 partidos? será uma aliança azul-escura, entre Høyre e FrP, sem os dois de centro? Ou será que Høyre e FrP se aliarão ao Venstre, deixando o KrF de lado?

 fire borgerlige partiledere  (Foto: Aas, Erlend/NTB scanpix)
 O bloco conservador: Siv Jensen (FrP), Erna Solberg (Høyre), Knut Arild Hareide (KrF) e Trine Skei Grande (Venstre) devem negociar nos próximos dias para decidir quem fica com que pedaço do bolo.

No sistema parlamentarista norueguês, depois das eleições os partidos do bloco vencedor se sentam para negociar qual será a plataforma de governo, e quem fará parte. Essa bateria de negociatas entre os quatro partidos do bloco conservador está se iniciando agora, é crucial para definir o perfil do futuro governo, e pode se estender por semanas, até que se chegue a um acordo.

O Høyre, partido principal do bloco, assume um papel de líder e mediador; Erna Solberg costuma se pronunciar de forma conciliadora, evasiva, prefere governar com todos juntos.


 A reconchuda Erna Solberg é a futura primeira-ministra norueguesa

O ultradireita FrP, por outro lado, é o cachorro-louco populista comandado pela agressiva Siv Jensen: chegam ao poder pela primeira vez com o peso de 29 assentos, e sabem que o Høyre precisa deles para governar. FrP já declarou que pretende abocanhar pelo menos 5 ou 6 ministérios, entre eles o de Finanças e o de Petróleo/Energia.


A plataforma do FrP é radical ultradireita, populista, e tem como bandeiras cortar impostos, diminuir o preço da gasolina, acabar com pedágio, expulsar imigrantes. O partido defende a retirada da assinatura da convenção de clima por entender que mudanças climáticas não são causadas pelo homem. Trata-se do partido a que se filiava o terrorista Anders Breivik que matou mais de setenta pessoas na ilha de Utøya há dois anos atrás.

Isso mesmo, com 16,3% dos votos e 29 cadeiras no parlamento, a partir de ontem.

– Morna, Jens!
Siv Jensen, de vestido 'dildo', anteontem: o ultradireita FrP deve chegar babando na mesa de negociação para formação do novo governo.

Os partidos de centro KrF e Venstre, embora menores, têm um papel-chave de fiel da balança: sem pelo menos um deles, Erna Solberg não consegue maioria para governar. Com esse trunfo, sentam-se na mesa de negociação lado a lado, e já declararam que pretendem entrar juntos. São os partidos que levantam bandeiras como ambientalismo e combate à pobreza.

Há diversos assuntos que podem rachar esse bloco conservador, afastando os partidos de centro. A abertura de Lofoten e Vesterålen, áreas de reprodução de bacalhau, para exploração de petróleo é um deles. Venstre e KrF são contra; Høyre e FrP a favor. Na prática, ou os partidos de centro se curvam (pelo menos um), ou caem fora. Neste último caso, seria formado um governo de minoria por Høyre e FrP, para muitos o pior pesadelo possível. O KrF já disse que prefere ser oposição do que sentar num governo "azul-escuro" Høyre/FrP. Resta saber quão hábil será Erna Solberg para segurar os cachorros de Siv Jensen.


Um comentário:

  1. "E a Noruega amanheceu em flor
    Monstros gigantes, raios, vulcões
    Viquingues dos mares
    Nos ventos da dominação"

    Samba enredo de 2007 da Imperatriz Leopoldinense. Patrocínio do Conselho Norueguês da Pesca.

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